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Introdução

Por que escrever um livro sobre uma visão positiva da homoafetividade a partir da Bíblia? A resposta é muito simples: nos países ocidentais, religiosamente embasados no Cristianismo, o principal argumento contra a homossexualidade busca suas fontes na autoridade dos textos bíblicos, cujas interpretações tradicionais conduzem a uma visão heterocêntrica para a moral sexual da humanidade. Essa visão heterocêntrica tem sido, ao longo da História secular e religiosa, responsável por uma série de (pré)conceitos acerca da diversidade sexual humana; conceitos que marginalizam, dividem e destroem inúmeras vidas diariamente. Em outras épocas, utilizando-se da Bíblia, grupos religiosos apoiavam e defendiam a escravidão, a segregação racial, a inferiorização da mulher e outras formas de preconceito. Hoje, a mesma Bíblia é utilizada para a exclusão de pessoas homossexuais.


Veremos, ao longo do livro, que a Bíblia reflete uma moral acerca da sexualidade sob o prisma das sociedades patriarcais em que foi concebida, especialmente o patriarcado judaico. É natural que a Bíblia não tenha abordado conceitos que seriam construídos apenas muitos séculos depois do fechamento do cânon sagrado. No entanto, à primeira vista e sob uma análise superficial, encontramos na Bíblia “provas” de que a homossexualidade é uma prática pecaminosa e, consequentemente, desaprovada por Deus.


A noção que a maioria das pessoas tem sobre a homossexualidade está relacionada apenas ao aspecto sexual, exatamente porque a Bíblia, ao mencionar atos homogenitais, o faz sem nenhuma conexão com a afetividade e o compromisso mútuos. Esse fato favorece a ideia de que pessoas homoafetivas não são capazes de sentir e se expressar além do componente sexual. Tal visão deve ser revista. Uma nova reflexão, a partir dos textos bíblicos, é o primeiro passo rumo ao reconhecimento da diversidade sexual enquanto aspecto natural da existência humana.


 A homossexualidade é um conceito amplo, que ultrapassa os limites da libido e abrange uma gama de elementos emocionais e psicológicos tal qual ocorre com a heterossexualidade. Por essa razão, atualmente, o termo homoafetividade traduz com mais precisão esse aspecto da diversidade humana e tem sido usado com uma frequência cada vez maior. Homoafetividade não é sinônimo de homogenitalidade. O componente sexual como entrega recíproca deve ser a consequência de sentimentos que começam num olhar e terminam no compromisso estável entre as partes envolvidas. O amor é um sentimento universal, e não constitui exclusividade dos heterossexuais. É uma capacidade de todo ser humano, como assim o são os homossexuais, igualmente capazes de gerar em outrem ou nutrir por outrem um amor sincero e autêntico. A Bíblia não trata desse assunto, apenas faz referências a atos homogenitais em contextos e situações muito diferentes das uniões homoafetivas estáveis de hoje. Nada há na Bíblia, condenável, que se relacione com o compromisso motivado por um sentimento de amor e companheirismo entre duas pessoas do mesmo sexo.


            É preciso desmitificar as ideologias teológicas tradicionais que afirmam ser a homossexualidade ilegítima para Deus. O principal argumento consiste em provar que a mensagem bíblica não abordaria um conceito desconhecido por seus primeiros receptores.  Foram examinados os principais textos bíblicos utilizados pelo Cristianismo ortodoxo, utilizando as regras universais da Hermenêutica e da Exegese para uma compreensão mais exata transparente e honesta, eliminando possíveis focos de distorção aos textos sagrados. Aqui, utiliza-se, principalmente, o método histórico-crítico de interpretação. Tal método considera as várias instâncias situacionais de produção dos textos sagrados – fatores históricos, culturais, antropológicos e linguísticos – a fim de se promover uma perfeita compreensão, contextualização e aplicação (ou não-aplicação) de alguns textos bíblicos para a igreja e a sociedade de hoje.

            O livro traz duas seções distintas: o Antigo Testamento e a homossexualidade; e o Novo Testamento e a homossexualidade. Em ambas, são apresentados os textos na ordem em que aparecem na Bíblia. Um apêndice sobre Davi e Jônatas constitui um capítulo à parte...
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